Contra a escravatura infantil
Algumas crianças são órfãs, escravas e vítimas de abusos sexuais. “Alimento” das redes internacionais de tráfico de menores e pedofilia. Muitos meninos e meninas haitianos tornaram-se alvos fáceis depois do terramoto de 12 de Janeiro de 2010. Estima-se que 1,5 milhões de crianças tenham sido afectadas pelo sismo. 500 mil encontram-se em situação de grande vulnerabilidade.
Desde o sismo, a UNICEF tem estado na linha da frente, empenhada em dar uma nova oportunidade às crianças haitianas. Grande parte das escolas ficaram destruídas, por isso é preciso investir na educação dos mais jovens.
Mariana Palavra, portuguesa, trabalha nesta agência das Nações Unidas, na área da comunicação, no Haiti. Estava no país quando aconteceu o terramoto, que registou uma magnitude de 7.0 na escala de Richter e fez mais de 200 mil mortos, 300 mil feridos e dois milhões de deslocados.
Na altura, Mariana encontrava-se ao serviço da rádio da missão de paz da ONU. Logo nas primeiras semanas após a tragédia, dormia em carros. Depois comprou uma tenda, sem colchão, onde passou a pernoitar. Durante noites seguidas sentiu o cheiro a mortos a invadir as ruas da capital Port-au-Prince. Mesmo assim, ficou. Queria – e quer – ajudar a reconstruir o país.
O Haiti não foi só vítima de uma catástrofe natural. Falta respeito pelos direitos das crianças. Se antes do sismo a UNICEF já estimava que 250 mil crianças eram utilizadas como escravas, agora tudo indica que este número disparou. Há relatos de casos de pessoas que, mesmo a viver em tendas em campos de deslocados, obrigam as crianças a trabalhar para elas.
Mas, por entre os escombros e a extrema pobreza, alguns haitianos não desistem. É o caso de Johnny, que oferece o que ficou de pé da sua casa para a UNICEF criar um centro de apoio à infância. Uma espécie de ATL (Atelier de Tempos Livres). Neste, estão mais de 600 crianças inscritas, que dividem o seu dia entre actividades lúdicas e de aprendizagem.
Johnny, que também é voluntário no centro, está convicto de que as crianças haitianas precisam de educação e amor para que o país tenha paz e estabilidade: “Se estas crianças pegarem em armas, os haitianos serão as primeiras vítimas.”
No total, são cerca de 400 os centros criados pela UNICEF, com a ajuda de outras ONG. O esforço é tremendo, mas insuficiente. Num país onde 85% do ensino é privado e a pobreza atinge grande parte da população, o Haiti está ainda muito longe de conseguir que, até 2015, todas as crianças terminem um ciclo completo de ensino primário (2º Objectivo de Desenvolvimento do Milénio).
- Mariana Palavra, portuguesa, sobreviveu ao terramoto no Haiti e está empenhada na reconstrução do país com a UNICEF.
- A pobreza extrema no Haiti atinge grande parte da população e obriga muitos pais, desesperados, a entregar os seus filhos ao cuidado de outros, que os usam como escravos.
- Somevil tem 10 anos e vive com a madrinha, que a obriga a limpar a casa e carregar pesos.
- A UNICEF estimava que antes do terramoto 250 mil crianças já eram tratadas como escravas. Agora, acredita que o número é muito maior.
- Mariana conta-nos que falsas ONG foram apanhadas na fronteira com dezenas de crianças que levavam para tráfico de menores.
- A UNICEF está a criar centros de apoio à infância no Haiti para incentivar a aprendizagem dos mais novos.
- 85% do ensino no Haiti é privado e, por isso, inacessível à maioria da população.
- Johnny está desempregado desde o terramoto, mas isso não o impede de ajudar outros haitianos. Oferece o seu tempo e a sua casa para as crianças estudarem e brincarem.
- A mulher de Johnny, Manelle, sofreu um traumatismo na cabeça no dia do sismo e nunca mais recuperou. A família não tem meios para fazer exames médicos.