Índia
Como sempre (ao longo das 3 séries do programa “Príncipes do Nada”) enquanto autora e responsável pelas reportagens, fui acompanhada, desta vez para a Índia, pelos meus companheiros de todas as viagens: o realizador e produtor Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves.
Esta é a única equipa que vai para o terreno, ninguém mais nos acompanha. Os três vivemos experiências muito intensas, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista psicológico. Há 7 anos que assim é.
Na Índia, um país que é um Mundo, com 22 línguas e cerca de 1600 dialectos, a condição da mulher é ainda o problema que mais choca quando nos debruçamos nas estatísticas e falamos com as pessoas nos locais onde vivem. A ONU afirma que 40 milhões de MENINAS morreram por negligência das famílias ou nem sequer chegaram a nascer (chegam a ocorrer cerca de 7.000 feticídios femininos por dia).
Apesar do governo indiano e das ONG estarem a tentar travar esta realidade, o nascimento de uma menina é ainda um fardo para grande parte das famílias indianas. Persiste a sociedade de castas e o ritual de entrega de um dote por parte da família da noiva à família do noivo, entre muitos outros aspectos que remetem a menina e mulher para um terceiro plano de oportunidades e poder de decisão.
A viagem começou em Nova Deli onde visitámos um projecto da ONG People to People India numa favela com crianças trabalhadoras, filhas dos sem-abrigo. A voluntária portuguesa Márcia mostrou-nos as condições terríveis de pobreza extrema e falta de acesso a cuidados de saúde, higiene e educação destas cerca de 1500 pessoas.
Príncipes do Nada viajou muito pelo interior da Índia onde se acredita que vivam 75% dos pobres do país. Assistimos ao trabalho do Lifeline Express, o único comboio-hospital do mundo que atravessa a Índia e oferece cirurgias e tratamentos gratuitos aos mais desfavorecidos.
Ainda pelo interior, mostrámos a forma comovente como as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras dão acolhimento a cerca de 400 meninas que viviam em condições de vulnerabilidade e risco social. Combater a discriminação com base no género é o grande objectivo desta Congregação Católica.
Continuando pelo interior da Índia, passamos a palavra ao Fundo das Nações Unidas para a População (do qual sou Embaixadora de Boa Vontade desde há 10 anos) e destacamos o trabalho feito junto das comunidades locais sobre a saúde reprodutiva e a necessidade de envolver o homem nas mudanças de comportamentos que dizem respeito à violação dos direitos das mulheres ainda tão ignorados e a maioria impensáveis no século em que vivemos.
A Índia, um país com 1,2 mil milhões de pessoas, é um lugar místico que atrai, mas onde é demasiado visível e chocante o contraste entre os 13% de ricos e os 410 milhões de pobres. Sendo um dos países emergentes é importante colocar as questões da discriminação da mulher na ordem do dia.
Catarina Furtado