Catarina Furtado
Autora e Coordenadora
Catarina Furtado pensou o conceito "Príncipes do Nada" em jeito de missão! Encontrou no realizador/produtor Ricardo Freitas a vontade e as peças para construir o formato televisivo, formaram uma equipa, produziram e concretizaram as ideias na Até ao Fim do Mundo e, pela mão da RTP, alcançam um objectivo ímpar: pôr as vozes e os rostos do "Príncipes do Nada" dentro das casas de milhares de telespectadores. É movida a dar o seu melhor em cada uma das histórias que reporta pela certeza de que o mundo é “cada vez mais um lugar que deve ser organizado em função do respeito pelos direitos humanos”. Em 2010, foi distinguida pelas Nações Unidas pelo seu trabalho na defesa e promoção dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Nesta terceira série, a vontade de ir mais longe levou-a até países como o Sudão do Sul, o Haiti e a Índia, mas também a fez regressar a Moçambique e a Portugal para mostrar as realidades que continuam tão carentes de atenção como as pessoas que lhes dão rosto e sentido. Sempre que parte em viagem para o "Príncipes do Nada", explica aos filhos que tem de ir “porque é uma missão”. A apresentadora de televisão dá lugar à contadora de histórias… histórias, por vezes, demasiado tristes e comoventes para caírem na indiferença do telespectador. Catarina Furtado partilha, desta forma, a combinação de gostar muito de fazer televisão útil com o papel de Embaixadora da Boa Vontade do UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População) na tentativa de que um lado do mundo se mobilize para melhorar o que de pior existe do outro lado, do mesmo mundo.
Quais são os maiores desafios de fazer um programa como o "Príncipes do Nada"?
Perceber que nunca chegamos a ver tudo o que existe de terrível e desajustado no Mundo. A violação dos Direitos Humanos, a pobreza extrema, os choques culturais e a nossa preocupação em relatar estas realidades deixando sempre um caminho para a esperança, para que se suscitem cumplicidades e mais pessoas fiquem sintonizadas com a necessidade de, enquanto cidadãos do mundo, ajudarem a construir sociedades mais equilibradas. O desafio é conseguir com que o público que assiste se comprometa, inspirado pelos bons exemplos que promovemos. É um desafio falar de realidades tão complexas em cerca de 10 minutos de história e nunca deixar o essencial de fora. É também um grande desafio contar as histórias, evitando recorrer ao paternalismo e sem beliscar a dignidade das pessoas. Tenho sempre em mente que o sensacionalismo é o nosso maior inimigo.
A equipa que vai para o terreno é a mesma desde há sete anos. Sendo a única mulher entre dois homens – o realizador Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves –, como é que caracterizas a vossa relação?
A nossa relação é mesmo especial. Cada viagem que fazemos confirma isso. Quando fizemos a primeira série do programa, eu estava grávida da minha filha Maria Beatriz e, por isso, foram viagens com um acréscimo de emotividade e a verdade é que não poderia ter, ao meu lado, melhores companheiros. Na parte profissional, é um prazer imenso porque estamos sempre sintonizados. Eu e o Ricardo às vezes nem precisamos de falar para perceber o que nos interessa filmar. O Hugo é um extraordinário profissional, incansável e sempre muito afável. Só precisa de água para fazer andar o seu motor! Às vezes, sou eu que me sinto desconfortável por fazer tantas entrevistas (algumas longas demais) mas é um defeito profissional por estar sempre a pensar na edição. Somos todos destemidos mas no que diz respeito à alimentação o Ricardo é sem dúvida o mais corajoso! Eu e o Hugo não arriscamos tanto, ficar doente longe dos nossos alicerces pode ser complicado...
Sentiste-te em perigo nalgum país?
De vez em quando existem situações mais tensas, mas nunca sentimos perigo de vida. Já aconteceu, por exemplo estarmos na Guiné, quando houve um atentado, mas nunca entramos em pânico e temos tido de uma maneira geral sempre o apoio das Embaixadas Portuguesas ou do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), do qual sou Embaixadora de Boa Vontade há já 11 anos, que dão algum apoio logístico em determinados locais.
Alguma vez, sentiste que não queriam que contasses uma história?
Não de uma forma óbvia. Aconteceu uma vez, em São Tomé e Príncipe, no orfanato Casa dos Pequeninos onde as crianças estavam a viver em condições inacreditáveis mas conseguimos contornar de maneira a contar a história. O que nos interessa não é apenas denunciar certas situações ou realidades… É fazê-lo mas sempre mostrando, ao mesmo tempo, a vontade de mudança de algumas pessoas que estão no terreno.
Como é que lidas com as memórias e as histórias que trazes de cada país?
Não é nada fácil porque, neste momento, já vou tendo um arquivo imenso de memórias que me acompanham e que me mudaram enquanto mulher e mãe. Vi coisas difíceis de verbalizar e, às vezes, até por uma questão de respeito, optamos por não mostrar porque são demasiado cruéis. Tento contar às pessoas mais próximas quando chego para que as imagens não fiquem “presas” cá dentro mas, mesmo assim, é uma vivência solitária. Sinto muita necessidade de ir falando com o Ricardo e com o Hugo sobre o que vimos.
Por que é que vale a pena fazer o "Príncipes do Nada"?
Por várias razões: porque as pessoas incansáveis que estão no terreno (muitas delas portuguesas) merecem o nosso reconhecimento; porque esses exemplos estimulam outros; porque nós relativizamos melhor os nossos problemas quando comparados com outros de muito maior gravidade; porque ao estarmos informados deixamos de ter legitimidade para não agir; porque o mundo é cada vez menos um conjunto de países dividido por fronteiras e cada vez mais um lugar que deve ser organizado em função do respeito pelos direitos humanos.
Como é que concilias papéis tão diferentes como a de apresentadora de televisão, num contexto de entretenimento puro, e o de contadora de histórias no "Príncipes do Nada"?
Gosto muito de trabalhar nas diversas áreas, como apresentadora, documentarista e actriz e sou uma workaholic! Adoro ser mãe e tomar conta da minha “prol”, por isso só tenho uma opção: dormir mesmo muito pouco! Cerca de cinco horas por noite para conseguir trabalhar e ser mãe durante o dia e, depois de lhes contar as histórias para os adormecer, ainda ir para o computador até muito tarde. Tenho um marido excepcional o que é meio caminho... Sem ele seria impossível conciliar tudo e andar feliz!
Quando estás de partida para uma viagem do "Príncipes do Nada", o que é que explicas aos teus filhos?
Que vou porque tenho de ir. Porque é uma missão e uma missão significa que não tem a ver com ir trabalhar para ganhar dinheiro para podermos ter uma vida boa (que é o que lhes digo quando, por exemplo, não passava o fim de semana em casa porque estava em directo na Voz de Portugal ou durante a semana a fazer mil e uma outras coisas), mas que estas partidas significam que tenho uma obrigação porque é uma oportunidade maravilhosa de poder desencadear o Bem. Eles percebem que vou ter com meninos e meninas que não têm a sorte deles e, por isso, já falamos abertamente. Ajudam-me sempre a fazer a mala e a acrescentar algumas coisas que entendem que eu devo levar para oferecer.
O que é que distingue esta terceira série do programa?
Continuamos a ter magníficas histórias e a fazer um balanço sobre a situação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, agora que estamos a três anos do prazo estabelecido pelas Nações Unidas para erradicar a pobreza extrema no Mundo. Nesta série, contribuímos com spots de sensibilização para cada um dos oito ODM, realizados pelo Ricardo Freitas.
Desta vez, deixamos um bocadinho de parte os países de expressão portuguesa (apenas voltámos a Moçambique) e mostramos outras realidades, como por exemplo, o Haiti, o Sudão do Sul (fomos a primeira equipa portuguesa a ir fazer reportagens depois da Independência) e voltamos a contar histórias em Portugal. Lançamos também o nosso facebook e o nosso site. Temos uma equipa pequena mas extremamente empenhada que dá o seu melhor todos os dias. O meu MUITO obrigada à Sara, à Alice, à Marisa, à Susana, ao André, ao Renato, ao Tito, ao Pedro... a todos os que fazem parte deste projecto tão especial e que nele colocam tanto carinho.
Depois desta terceira série, o que é que vem a seguir?
Tudo indica que iremos fazer novamente um "Especial Um por Todos - Príncipes do Nada" como fizemos há cerca de um ano e que trouxe tão bons resultados para as diferentes ONG dos países que visitámos. Acredito que só com os esforços unidos de governos, ONG, associações, filantropos, empresas, e sociedade civil é que podemos ajudar a transformar este mundo num mundo mais justo e igualitário.
Catarina Furtado pensou o conceito "Príncipes do Nada" em jeito de missão! Encontrou no realizador/produtor Ricardo Freitas a vontade e as peças para construir o formato televisivo, formaram uma equipa, produziram e concretizaram as ideias na Até ao Fim do Mundo e, pela mão da RTP, alcançam um objectivo ímpar: pôr as vozes e os rostos do "Príncipes do Nada" dentro das casas de milhares de telespectadores. É movida a dar o seu melhor em cada uma das histórias que reporta pela certeza de que o mundo é “cada vez mais um lugar que deve ser organizado em função do respeito pelos direitos humanos”. Em 2010, foi distinguida pelas Nações Unidas pelo seu trabalho na defesa e promoção dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
Nesta terceira série, a vontade de ir mais longe levou-a até países como o Sudão do Sul, o Haiti e a Índia, mas também a fez regressar a Moçambique e a Portugal para mostrar as realidades que continuam tão carentes de atenção como as pessoas que lhes dão rosto e sentido. Sempre que parte em viagem para o "Príncipes do Nada", explica aos filhos que tem de ir “porque é uma missão”. A apresentadora de televisão dá lugar à contadora de histórias… histórias, por vezes, demasiado tristes e comoventes para caírem na indiferença do telespectador. Catarina Furtado partilha, desta forma, a combinação de gostar muito de fazer televisão útil com o papel de Embaixadora da Boa Vontade do UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População) na tentativa de que um lado do mundo se mobilize para melhorar o que de pior existe do outro lado, do mesmo mundo.
Quais são os maiores desafios de fazer um programa como o "Príncipes do Nada"?
Perceber que nunca chegamos a ver tudo o que existe de terrível e desajustado no Mundo. A violação dos Direitos Humanos, a pobreza extrema, os choques culturais e a nossa preocupação em relatar estas realidades deixando sempre um caminho para a esperança, para que se suscitem cumplicidades e mais pessoas fiquem sintonizadas com a necessidade de, enquanto cidadãos do mundo, ajudarem a construir sociedades mais equilibradas. O desafio é conseguir com que o público que assiste se comprometa, inspirado pelos bons exemplos que promovemos. É um desafio falar de realidades tão complexas em cerca de 10 minutos de história e nunca deixar o essencial de fora. É também um grande desafio contar as histórias, evitando recorrer ao paternalismo e sem beliscar a dignidade das pessoas. Tenho sempre em mente que o sensacionalismo é o nosso maior inimigo.
A equipa que vai para o terreno é a mesma desde há sete anos. Sendo a única mulher entre dois homens – o realizador Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves –, como é que caracterizas a vossa relação?
A nossa relação é mesmo especial. Cada viagem que fazemos confirma isso. Quando fizemos a primeira série do programa, eu estava grávida da minha filha Maria Beatriz e, por isso, foram viagens com um acréscimo de emotividade e a verdade é que não poderia ter, ao meu lado, melhores companheiros. Na parte profissional, é um prazer imenso porque estamos sempre sintonizados. Eu e o Ricardo às vezes nem precisamos de falar para perceber o que nos interessa filmar. O Hugo é um extraordinário profissional, incansável e sempre muito afável. Só precisa de água para fazer andar o seu motor! Às vezes, sou eu que me sinto desconfortável por fazer tantas entrevistas (algumas longas demais) mas é um defeito profissional por estar sempre a pensar na edição. Somos todos destemidos mas no que diz respeito à alimentação o Ricardo é sem dúvida o mais corajoso! Eu e o Hugo não arriscamos tanto, ficar doente longe dos nossos alicerces pode ser complicado...
Sentiste-te em perigo nalgum país?
De vez em quando existem situações mais tensas, mas nunca sentimos perigo de vida. Já aconteceu, por exemplo estarmos na Guiné, quando houve um atentado, mas nunca entramos em pânico e temos tido de uma maneira geral sempre o apoio das Embaixadas Portuguesas ou do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), do qual sou Embaixadora de Boa Vontade há já 11 anos, que dão algum apoio logístico em determinados locais.
Alguma vez, sentiste que não queriam que contasses uma história?
Não de uma forma óbvia. Aconteceu uma vez, em São Tomé e Príncipe, no orfanato Casa dos Pequeninos onde as crianças estavam a viver em condições inacreditáveis mas conseguimos contornar de maneira a contar a história. O que nos interessa não é apenas denunciar certas situações ou realidades… É fazê-lo mas sempre mostrando, ao mesmo tempo, a vontade de mudança de algumas pessoas que estão no terreno.
Como é que lidas com as memórias e as histórias que trazes de cada país?
Não é nada fácil porque, neste momento, já vou tendo um arquivo imenso de memórias que me acompanham e que me mudaram enquanto mulher e mãe. Vi coisas difíceis de verbalizar e, às vezes, até por uma questão de respeito, optamos por não mostrar porque são demasiado cruéis. Tento contar às pessoas mais próximas quando chego para que as imagens não fiquem “presas” cá dentro mas, mesmo assim, é uma vivência solitária. Sinto muita necessidade de ir falando com o Ricardo e com o Hugo sobre o que vimos.
Por que é que vale a pena fazer o "Príncipes do Nada"?
Por várias razões: porque as pessoas incansáveis que estão no terreno (muitas delas portuguesas) merecem o nosso reconhecimento; porque esses exemplos estimulam outros; porque nós relativizamos melhor os nossos problemas quando comparados com outros de muito maior gravidade; porque ao estarmos informados deixamos de ter legitimidade para não agir; porque o mundo é cada vez menos um conjunto de países dividido por fronteiras e cada vez mais um lugar que deve ser organizado em função do respeito pelos direitos humanos.
Como é que concilias papéis tão diferentes como a de apresentadora de televisão, num contexto de entretenimento puro, e o de contadora de histórias no "Príncipes do Nada"?
Gosto muito de trabalhar nas diversas áreas, como apresentadora, documentarista e actriz e sou uma workaholic! Adoro ser mãe e tomar conta da minha “prol”, por isso só tenho uma opção: dormir mesmo muito pouco! Cerca de cinco horas por noite para conseguir trabalhar e ser mãe durante o dia e, depois de lhes contar as histórias para os adormecer, ainda ir para o computador até muito tarde. Tenho um marido excepcional o que é meio caminho... Sem ele seria impossível conciliar tudo e andar feliz!
Quando estás de partida para uma viagem do "Príncipes do Nada", o que é que explicas aos teus filhos?
Que vou porque tenho de ir. Porque é uma missão e uma missão significa que não tem a ver com ir trabalhar para ganhar dinheiro para podermos ter uma vida boa (que é o que lhes digo quando, por exemplo, não passava o fim de semana em casa porque estava em directo na Voz de Portugal ou durante a semana a fazer mil e uma outras coisas), mas que estas partidas significam que tenho uma obrigação porque é uma oportunidade maravilhosa de poder desencadear o Bem. Eles percebem que vou ter com meninos e meninas que não têm a sorte deles e, por isso, já falamos abertamente. Ajudam-me sempre a fazer a mala e a acrescentar algumas coisas que entendem que eu devo levar para oferecer.
O que é que distingue esta terceira série do programa?
Continuamos a ter magníficas histórias e a fazer um balanço sobre a situação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, agora que estamos a três anos do prazo estabelecido pelas Nações Unidas para erradicar a pobreza extrema no Mundo. Nesta série, contribuímos com spots de sensibilização para cada um dos oito ODM, realizados pelo Ricardo Freitas.
Desta vez, deixamos um bocadinho de parte os países de expressão portuguesa (apenas voltámos a Moçambique) e mostramos outras realidades, como por exemplo, o Haiti, o Sudão do Sul (fomos a primeira equipa portuguesa a ir fazer reportagens depois da Independência) e voltamos a contar histórias em Portugal. Lançamos também o nosso facebook e o nosso site. Temos uma equipa pequena mas extremamente empenhada que dá o seu melhor todos os dias. O meu MUITO obrigada à Sara, à Alice, à Marisa, à Susana, ao André, ao Renato, ao Tito, ao Pedro... a todos os que fazem parte deste projecto tão especial e que nele colocam tanto carinho.
Depois desta terceira série, o que é que vem a seguir?
Tudo indica que iremos fazer novamente um "Especial Um por Todos - Príncipes do Nada" como fizemos há cerca de um ano e que trouxe tão bons resultados para as diferentes ONG dos países que visitámos. Acredito que só com os esforços unidos de governos, ONG, associações, filantropos, empresas, e sociedade civil é que podemos ajudar a transformar este mundo num mundo mais justo e igualitário.
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