Marisa Feio
Jornalista
Diz que “Príncipes do Nada” é um “formato diferente” e que “pode tirar horas de sono”, mas está convicta de que só assim podemos “acordar” para o que realmente importa no mundo. A jornalista Marisa Feio, 30 anos, colabora no programa desde a segunda série. Actualmente a trabalhar na terceira série, também tem produzido conteúdos para a página de Internet do programa. Começou a sua experiência profissional aos 18 anos na imprensa regional. Depois da licenciatura em Jornalismo, passou pela Rádio Renascença, como estagiária. A descoberta do gosto de fazer televisão aconteceu em 2005, como jornalista de diferentes programas na RTP, entre os quais: “Da Terra ao Mar”, sobre agricultura e pescas; “2010”, magazine de ciência e tecnologia. Estreou-se na apresentação, na RTP África, com o programa “Latitudes”, magazine dedicado às comunidades africanas. Passou ainda pela produtora CBV, pela empresa de audiovisuais Auditiv e colaborou com a revista AFRO. Mais recentemente, participou no desenvolvimento de um projecto de canal temático - HouseTv. “Príncipes do Nada” é o projecto televisivo que, diz sem rodeios e sempre com um sorriso, “faz sentido e vale mesmo a pena”.
Quais são os principais desafios como jornalista ao fazer um programa como o “Príncipes do Nada”?
O principal e maior desafio é o de tratar de conteúdos avassaladores do ponto de vista emocional, prezando sempre o respeito pela dignidade humana, qualquer que seja a circunstância ou condição. Assim que iniciei a minha colaboração para este programa, deparei-me com uma questão de consciência e moral: Até que ponto é válido e honesto expor o sofrimento humano, através destas imagens, desta forma que construímos em televisão para contar histórias? Só depois de longas horas de visionamento de histórias que perturbam pelo sofrimento e pelo conceito de viver tão diferente do que estou confortavelmente habituada, é que reencontrei a segurança de trabalhar no sentido certo.
Como assim?
Não se trata de mais um aproveitamento superficial da imagem de criancinhas subnutridas, desgarrada de contexto, causas e perspectivas. “Príncipes do Nada” é um formato diferente, sem falsas tentativas de imparcialidade. É o olhar humano de contar as histórias não só dos que sofrem, mas dos que abandonam vidas muito idênticas à nossa para mudar um bocadinho as realidades mais duras e chocantes. E o mais incrível de tudo chegou uns dias depois da estreia da segunda série do programa, quando tomo conhecimento de que havia telespectadores disponíveis a ajudar muitas das causas reportadas no “Príncipes do Nada”. Hoje, não há dúvida nenhuma, faz sentido e vale mesmo a pena!
Quais são as tuas funções enquanto jornalista do programa?
O primeiro passo é visionar o material recolhido no terreno, prestando especial atenção às entrevistas feitas pela Catarina nos diferentes países e contextos. Depois é fazer uma pré-selecção dos conteúdos que representam melhor a realidade e respectivas histórias, alinhavando uma estrutura embrionária do que poderá ser a “reportagem/história”. A par disto, é desenvolvida uma pesquisa constante para contextualizar o ponto de situação sobre cada país em relação aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e endurecer o registo humano com apontamentos informativos. Sob a orientação da Catarina no que toca ao olhar que ela guarda de cada passagem pelos diferentes lugares, avançamos para a produção de texto. Por fim, acompanho o processo de edição, confiando ao editor o casamento (quase perfeito) entre as imagens e as palavras.
Há alguma reportagem que te tenha marcado mais?
Não consigo identificar uma reportagem única! Na verdade, são muitas as que me marcaram. Por exemplo, da segunda série: o trabalho dos Médicos do Mundo, em São Tomé e Príncipe; a associação Reencontro de Moçambique; a ajuda do FNUAP em Timor, onde as mulheres sofrem horas a fio em silêncio o trabalho de parto.
E da terceira série, que se estreia agora?
A visita ao Hospital Pediátrico do Sudão do Sul, país que está entre os piores do mundo ao nível da mortalidade materna, mortalidade infantil e cuidados de saúde primários; a escolha de vida da Dona Nilsa, uma portuguesa que se entrega incondicionalmente às crianças e idosos de Moçambique, dando a mão a quem mais precisa.
O que é que o "Príncipes do Nada" pode oferecer ao público que o acompanha?
Todos sabemos que há pobreza, há doença, há injustiça e drama, alguns de nós até já estiveram perto de uma ou outra situação destas, mas poucos são os que conhecem de verdade ou sequer pensam, de forma mais focada, nas pessoas que vivem isto tudo e mais alguma coisa algures neste nosso mundo, por vezes, tão feio e desigual. Ver “Príncipes do Nada” é dedicar 25-30 minutos para ver televisão de uma forma pouco habitual.
Porquê “pouco habitual”?
Não é para entreter o espírito, nem pensar sobre a crise económica do país... Não é para os telespectadores se evadirem dos problemas, nem para se manterem informados. Se me permitem, é para se disponibilizarem ao incómodo, ao que não é agradável, mas que faz parte do mundo que é de todos e não vale a pena fechar os olhos a isso. Aproveito a oportunidade para desafiar os pais a sentarem os filhos, maiores de 10/12 anos, no sofá para ver o programa.
Acreditas então que é importante para a formação das pessoas ver um programa destes?
Pode até tirar alguns minutos de sono às pessoas, mas a aprendizagem e a formação pode acontecer de mil maneiras. No meio de tanta hipocrisia, lamechice e carência de valores sociais, uma pedrada no nosso "charco" emocional pode ser eficaz para relativizar algumas situações e acordar para outras, as que realmente importam!
O programa influenciou a tua forma de estar e de ver o mundo?
Sim, influenciou em várias dimensões! Como jornalista, deu-me a oportunidade de aprender outra forma de fazer jornalismo válido e humano, sem os critérios mais rígidos que a deontologia da profissão dita. Como cidadã, coloca o meu pensamento na trajectória do conhecimento mais crítico e responsável sobre o mundo em que vivo. Como mulher/cidadã, reforça a acção de fazer algo mais por quem precisa em Portugal e reacende a vontade de realizar uma missão em África.
Diz que “Príncipes do Nada” é um “formato diferente” e que “pode tirar horas de sono”, mas está convicta de que só assim podemos “acordar” para o que realmente importa no mundo. A jornalista Marisa Feio, 30 anos, colabora no programa desde a segunda série. Actualmente a trabalhar na terceira série, também tem produzido conteúdos para a página de Internet do programa. Começou a sua experiência profissional aos 18 anos na imprensa regional. Depois da licenciatura em Jornalismo, passou pela Rádio Renascença, como estagiária. A descoberta do gosto de fazer televisão aconteceu em 2005, como jornalista de diferentes programas na RTP, entre os quais: “Da Terra ao Mar”, sobre agricultura e pescas; “2010”, magazine de ciência e tecnologia. Estreou-se na apresentação, na RTP África, com o programa “Latitudes”, magazine dedicado às comunidades africanas. Passou ainda pela produtora CBV, pela empresa de audiovisuais Auditiv e colaborou com a revista AFRO. Mais recentemente, participou no desenvolvimento de um projecto de canal temático - HouseTv. “Príncipes do Nada” é o projecto televisivo que, diz sem rodeios e sempre com um sorriso, “faz sentido e vale mesmo a pena”.
Quais são os principais desafios como jornalista ao fazer um programa como o “Príncipes do Nada”?
O principal e maior desafio é o de tratar de conteúdos avassaladores do ponto de vista emocional, prezando sempre o respeito pela dignidade humana, qualquer que seja a circunstância ou condição. Assim que iniciei a minha colaboração para este programa, deparei-me com uma questão de consciência e moral: Até que ponto é válido e honesto expor o sofrimento humano, através destas imagens, desta forma que construímos em televisão para contar histórias? Só depois de longas horas de visionamento de histórias que perturbam pelo sofrimento e pelo conceito de viver tão diferente do que estou confortavelmente habituada, é que reencontrei a segurança de trabalhar no sentido certo.
Como assim?
Não se trata de mais um aproveitamento superficial da imagem de criancinhas subnutridas, desgarrada de contexto, causas e perspectivas. “Príncipes do Nada” é um formato diferente, sem falsas tentativas de imparcialidade. É o olhar humano de contar as histórias não só dos que sofrem, mas dos que abandonam vidas muito idênticas à nossa para mudar um bocadinho as realidades mais duras e chocantes. E o mais incrível de tudo chegou uns dias depois da estreia da segunda série do programa, quando tomo conhecimento de que havia telespectadores disponíveis a ajudar muitas das causas reportadas no “Príncipes do Nada”. Hoje, não há dúvida nenhuma, faz sentido e vale mesmo a pena!
Quais são as tuas funções enquanto jornalista do programa?
O primeiro passo é visionar o material recolhido no terreno, prestando especial atenção às entrevistas feitas pela Catarina nos diferentes países e contextos. Depois é fazer uma pré-selecção dos conteúdos que representam melhor a realidade e respectivas histórias, alinhavando uma estrutura embrionária do que poderá ser a “reportagem/história”. A par disto, é desenvolvida uma pesquisa constante para contextualizar o ponto de situação sobre cada país em relação aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e endurecer o registo humano com apontamentos informativos. Sob a orientação da Catarina no que toca ao olhar que ela guarda de cada passagem pelos diferentes lugares, avançamos para a produção de texto. Por fim, acompanho o processo de edição, confiando ao editor o casamento (quase perfeito) entre as imagens e as palavras.
Há alguma reportagem que te tenha marcado mais?
Não consigo identificar uma reportagem única! Na verdade, são muitas as que me marcaram. Por exemplo, da segunda série: o trabalho dos Médicos do Mundo, em São Tomé e Príncipe; a associação Reencontro de Moçambique; a ajuda do FNUAP em Timor, onde as mulheres sofrem horas a fio em silêncio o trabalho de parto.
E da terceira série, que se estreia agora?
A visita ao Hospital Pediátrico do Sudão do Sul, país que está entre os piores do mundo ao nível da mortalidade materna, mortalidade infantil e cuidados de saúde primários; a escolha de vida da Dona Nilsa, uma portuguesa que se entrega incondicionalmente às crianças e idosos de Moçambique, dando a mão a quem mais precisa.
O que é que o "Príncipes do Nada" pode oferecer ao público que o acompanha?
Todos sabemos que há pobreza, há doença, há injustiça e drama, alguns de nós até já estiveram perto de uma ou outra situação destas, mas poucos são os que conhecem de verdade ou sequer pensam, de forma mais focada, nas pessoas que vivem isto tudo e mais alguma coisa algures neste nosso mundo, por vezes, tão feio e desigual. Ver “Príncipes do Nada” é dedicar 25-30 minutos para ver televisão de uma forma pouco habitual.
Porquê “pouco habitual”?
Não é para entreter o espírito, nem pensar sobre a crise económica do país... Não é para os telespectadores se evadirem dos problemas, nem para se manterem informados. Se me permitem, é para se disponibilizarem ao incómodo, ao que não é agradável, mas que faz parte do mundo que é de todos e não vale a pena fechar os olhos a isso. Aproveito a oportunidade para desafiar os pais a sentarem os filhos, maiores de 10/12 anos, no sofá para ver o programa.
Acreditas então que é importante para a formação das pessoas ver um programa destes?
Pode até tirar alguns minutos de sono às pessoas, mas a aprendizagem e a formação pode acontecer de mil maneiras. No meio de tanta hipocrisia, lamechice e carência de valores sociais, uma pedrada no nosso "charco" emocional pode ser eficaz para relativizar algumas situações e acordar para outras, as que realmente importam!
O programa influenciou a tua forma de estar e de ver o mundo?
Sim, influenciou em várias dimensões! Como jornalista, deu-me a oportunidade de aprender outra forma de fazer jornalismo válido e humano, sem os critérios mais rígidos que a deontologia da profissão dita. Como cidadã, coloca o meu pensamento na trajectória do conhecimento mais crítico e responsável sobre o mundo em que vivo. Como mulher/cidadã, reforça a acção de fazer algo mais por quem precisa em Portugal e reacende a vontade de realizar uma missão em África.
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