Hugo Gonçalves

Repórter de imagem

Foi desde a primeira viagem o repórter de imagem do programa "Príncipes do Nada" com a Catarina Furtado e o realizador Ricardo Freitas. Entretanto, já passaram sete anos e Hugo Gonçalves continua entusiasmado com o projecto, que acredita que tem servido para “alertar consciências”. Muito embora nunca tenha sentido a vida em risco, diz que já houve momentos de tensão nalguns países em que a sua câmara não era bem-vinda. Tem 32 anos e há 11 que trabalha na produtora Até ao Fim do Mundo, tendo sido repórter de imagem de vários programas emitidos pela RTP1 como o "Cuidado com a Língua", "Último a Sair" e "Centro de Saúde".

Quais foram as reportagens de "Príncipes do Nada" que mais te marcaram?

Todas deixaram a sua marca, é difícil estar a escolher uma ou a destacar esta ou aquela, porque todas elas marcaram-nos de uma maneira ou de outra. Mas, assim de repente, lembro-me da irmã Susana e enfermeira Laura, ambas em Moçambique, o especial de Banda Aceh [Indonésia] e o impacto que teve em nós a realidade haitiana, que vamos mostrar nesta terceira série.

Consegues filmar sem te emocionares com as histórias? Ou, para contar estas histórias não é necessário que exista algum envolvimento?

Sou muitas vezes apelidado de insensível, mas não creio que o seja. Enquanto estamos a fazer as peças, tento fazer no terreno aquilo que aprendi na base da minha formação, que é evitar o envolvimento que possa influenciar a realidade que estou a tentar mostrar.

Sentes que o programa faz, de facto, alguma diferença na vida das pessoas?

Sinto que um dos nossos principais objectivos é muitas vezes alcançado: alertar consciências e mentalidades. Também já sentimos que a nossa presença, em algumas situações, ajudou pessoas que precisavam de muito pouco para serem ajudadas.

Como por exemplo?

No Sudão do Sul aconteceu que nos cruzámos no hospital com uma criança que estava muito mal e que parecia que tinha sido esquecida… A atenção que lhe prestámos levou a que os enfermeiros e os médicos olhassem para ela com mais cuidado.

Tornaste-te mais sensível para as dificuldades das pessoas que vivem em países em vias de desenvolvimento?

Sim, não só nos países em vias de desenvolvimento, mas também em Portugal. Cada vez mais, sentes que essas dificuldades existem por cá, embora a uma escala que muitas vezes não é comparável com as que costumamos encontrar nos países que visitamos. As realidades não são comparáveis.

Por influência do programa, tornaste-te voluntário ou passaste a apoiar alguma ONG?

O meu maior contributo é dado através do programa. Com as minhas imagens procuro mostrar a realidade da forma mais real possível. E isso acho que tenho conseguido, o que é logo uma grande ajuda. Mas sempre que posso tento ajudar de outras formas, na medida das minhas possibilidades.

Imagino que te prepares antes de cada viagem…

Sim. Tento fazer uma pesquisa sobre o país. Em relação às reportagens, costumo preparar-me com o Ricardo e a Catarina no avião, ou até mesmo no hotel e aí debatemos a abordagem que queremos dar a cada história.

Já te sentiste em perigo nalgum país?

Sinceramente nunca senti a minha vida em risco ou a dos meus colegas. Sentimos que, em certos países, devemos ter alguns cuidados e não nos expormos demasiado, mas de uma forma geral somos sempre muito bem recebidos. Talvez a experiência no Sudão do Sul tenha sido aquela em que sentimos um pouco mais a insegurança, o que é normal num país recém-formado e instável politicamente. Mas nada de especial.

Mas a tua câmara é sempre bem-vinda? Nunca sentiste que não queriam que contasses alguma história?

Já sentimos que, em alguns países, os povos estão um pouco fartos de câmaras, jornalistas e tudo o que isso lhes traz… Por exemplo no Haiti, se pensarmos um pouco, é fácil de entender. Depois do terramoto, passaram meses a verem as suas vidas expostas por jornalistas do mundo inteiro, a ouvirem promessas que na realidade nunca chegaram a cumprir-se. Por isso, no Haiti sentimos que, em alguns locais, éramos "personas non gratas". Compreensível!

Vocês são sempre três no terreno – tu, a Catarina e o realizador, Ricardo Freitas. Nunca tiveram divergências?

As pessoas podem não acreditar, mas nunca aconteceu. E acho que aí também está um dos segredos do sucesso do programa. Desde o primeiro dia que se criou uma empatia muito grande entre os três. Acredito que isso passa para as histórias e para os nossos príncipes.

E como é que gerem as situações mais complicadas, até do ponto de vista emocional?

Apoiamo-nos muito! Quando vamos para o terreno, empenhamo-nos muito para que o produto final seja o melhor possível… Mas precisamos de momentos de descontracção, que acontecem normalmente ao jantar, onde aproveitamos para descomprimir um bocadinho. O que é fundamental, porque há dias em que chegamos ao hotel de rastos, tanto fisicamente como emocionalmente.

O público em geral tem muita curiosidade de saber como é trabalhar com a Catarina.

É uma honra acompanhá-la desde o início no projecto do "Príncipes do Nada". Se há mulheres que fazem a diferença na nossa sociedade hoje em dia, ela é certamente uma das principais. É sensível, muito, mas muito corajosa e, de certa forma, destemida. Nunca a ouvi dizer que não a nenhuma das nossas vontades no terreno, por muito que pudessem parecer de certa forma arriscadas.

Quando chegas a Portugal e voltas para casa, costumas ficar a pensar nas histórias e nas pessoas com quem te cruzaste?

Mais nas pessoas… Mas voltamos e temos sempre outros trabalhos, o que nos leva a mudar o "chip". Mas as memórias das pessoas e histórias ficam sempre.

O teu trabalho no programa termina quando acabas a reportagem ou procuras acompanhar o processo de construção e edição das histórias?

Tento acompanhar o processo de edição e dar a minha opinião de vez em quando. Mas esse trabalho está muito bem entregue a óptimos profissionais, como é o caso do Tito, Renato e André. E também a Sara e a Marisa, jornalistas, que são peças fundamentais neste programa.
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