Alice Frade
Consultora
Antropóloga a trabalhar em Advocacy e Cooperação para o Desenvolvimento há 14 anos, autora e co-autora de vários trabalhos nesta matéria, sobretudo com enfoque nas temáticas da Educação, Saúde Sexual e Reprodutiva, População e Desenvolvimento e Direitos Humanos. Alice Frade é também consultora do programa “Príncipes do Nada” desde a primeira série em 2005. O seu trabalho passa em grande parte por ajudar a identificar as temáticas associadas ao Desenvolvimento, bem como os seus protagonistas. Alice Frade defende que este programa de televisão faz “serviço público” com “preocupações de pedagogia e cidadania”. O desafio maior é “reflectir cá dentro e actuar para que o futuro seja mesmo diferente (melhor) para todas as pessoas”.
Qual é exactamente o seu papel enquanto consultora do programa?
A pesquisa de dados e informação sobre as temáticas associadas ao Desenvolvimento e que permitam identificar áreas de entrevista, quer na perspectiva de boas práticas, quer do que há ainda para fazer. Através dos contactos com entidades locais, identificar potenciais projectos, ONG e pessoas que, com base na realidade vivida naquele país ou região, testemunhem através da sua história, idealmente de voluntariado e/ou cooperação, os desafios que se colocam aos Direitos Humanos e às necessidades não resolvidas. Por exemplo, em matéria de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ou outros compromissos que os governos assinam a nível nacional, regional e mundial. Os contactos com as organizações internacionais e nacionais que actuam neste âmbito e cujo trabalho deve objectivamente servir para garantir o acesso a direitos fundamentais é, frequentemente, esquecido ou mal conhecido. O "Príncipes" tem dado um contributo importante para a mudança. Não se procuram pessoas para a entrevista, mas sim causas e rostos que actuem nessas mesmas causas de pessoas ao nível mundial.
Por que razão acha que isso acontece?
Estamos muito centrados na nossa realidade e isso limita a nossa visão do mundo e da resolução dos problemas. Por isso, o meu trabalho é um contributo para a equipa da Até ao Fim do Mundo identificar quais as ”entrevistas/histórias” que mais se adequam ao formato televisivo do “Príncipes” com os pressupostos de que a saúde, a educação, a igualdade e a pobreza são realidades quotidianas e plurais com muitos rostos e coordenadas; que a solução não passa apenas por enquadramentos legislativos ou ajudas em situação de emergência e catástrofe. Há que reforçar não apenas o discurso coerente, mas também as prioridades visando a coerência de políticas… O que significa também orçamento real. O meu trabalho passa talvez por contribuir com dados, factos, análises e saberes que depois a equipa e sobretudo a Catarina Furtado transformam nos textos, entrevistas e imagens (o Hugo tem aqui um papel único) que resultam no “Príncipes”.
Quais são os maiores desafios?
Encontrar pessoas que falem português ou portugueses a actuar nas diferentes áreas nos países e regiões onde a equipa vai; encontrar pessoas e projectos nacionais que, além da assistência imediata, tenham práticas de prevenção e empoderamento e, sobretudo, tentar contribuir para o equilíbrio entre o trabalho desenvolvido por cooperantes e o trabalho desenvolvido pelas pessoas e organizações nacionais desses países. Há um desafio interessante que é não ceder às temáticas que fazem mais agenda ou aos grandes consórcios de intervenção, ou às ONG com mais projectos e concentração de temáticas. O desafio maior é da equipa… É ser capaz de ter “reportagens/entrevistas/histórias” que mesmo num país muito diferente possam fazer reflectir cá dentro e actuar para que o futuro seja mesmo diferente (melhor) para todas as pessoas… tudo sem explorar emocionalmente as imagens e os cenários de “quase-guerra” que frequentemente se captam. Porque todos somos pessoas num mesmo planeta, há que tomar mais consciência de que as desigualdades acontecem também por discriminação, por se ser mulher, por se ser jovem, por se ser de outro grupo ou região, incluindo na aprovação e gestão dos financiamentos.
Há algum desafio ao qual o “Príncipes” não tem conseguido dar resposta?
Sim… O que fazer às inúmeras boas vontades com ofertas de livros, roupas ou disponibilidade para voluntariado que chegam depois dos programas? Não é fácil, nem está à distância de um telefonema ou correio electrónico.
Quais foram as histórias do programa que mais a marcaram?
Algumas que continuo à espera de ver o resultado: a Mutilação Genital Feminina na Guiné-Bissau, não o ritual, mas as histórias das mulheres e meninas; a campanha das lâmpadas nos campos de refugiados no Haiti como parte do programa para prevenir a violência com base no género; o trabalho dos Bombeiros Voluntários; entre outras. Mas das histórias que já passaram há algumas que fazem sempre muito sentido no meu quotidiano, talvez porque se cruzam também com a realidade portuguesa.
Como por exemplo?
As jovens mães em São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde. E depois o trabalho enorme de prevenção do VIH/sida que ainda não está feito, por exemplo, em Moçambique.
Em que sentido é que um programa como o “Príncipes do Nada” pode fazer a diferença?
Acho que já fez. Deu e continua a dar visibilidade pública ao trabalho da Cooperação e de ONG a actuar no âmbito do Desenvolvimento. As pessoas que são entrevistadas nos programas são agentes de cooperação, muitas trabalham em ONG ou integram projectos de ONG Portuguesas. Já sabemos que fazer recolha de alimentos, cobertores e medicamentos não é trabalho da Cooperação para o Desenvolvimento, mas sim da Ajuda Humanitária; que não basta recolher bens… É necessário outro tipo de estrutura; os armazéns, os transportes, os contentores de barco ou avião têm de ser pagos. A diferença que o “Príncipes do Nada” faz está, para mim, no facto de, a uma hora em que muita gente ainda está a ver televisão em família, passar um programa sobre direitos humanos. Com preocupações de pedagogia e cidadania, faz serviço público sobre o Desenvolvimento e sobre este nosso mundo mais global, sem protagonismos institucionais, mas com protagonistas directos que testemunham e sinalizam o que está a ser feito, o que está bem, mas também o que ainda é necessário fazer. É muito interessante ver como as escolas de vários níveis de ensino utilizam os programas disponíveis, por exemplo na internet, para desenvolver trabalhos no âmbito das várias disciplinas e se mobilizam para causas locais, nacionais ou internacionais. Esta é uma componente importante para a chamada Educação e Informação em prol do Desenvolvimento, da Cidadania Global e dos Direitos Humanos.
Antropóloga a trabalhar em Advocacy e Cooperação para o Desenvolvimento há 14 anos, autora e co-autora de vários trabalhos nesta matéria, sobretudo com enfoque nas temáticas da Educação, Saúde Sexual e Reprodutiva, População e Desenvolvimento e Direitos Humanos. Alice Frade é também consultora do programa “Príncipes do Nada” desde a primeira série em 2005. O seu trabalho passa em grande parte por ajudar a identificar as temáticas associadas ao Desenvolvimento, bem como os seus protagonistas. Alice Frade defende que este programa de televisão faz “serviço público” com “preocupações de pedagogia e cidadania”. O desafio maior é “reflectir cá dentro e actuar para que o futuro seja mesmo diferente (melhor) para todas as pessoas”.
Qual é exactamente o seu papel enquanto consultora do programa?
A pesquisa de dados e informação sobre as temáticas associadas ao Desenvolvimento e que permitam identificar áreas de entrevista, quer na perspectiva de boas práticas, quer do que há ainda para fazer. Através dos contactos com entidades locais, identificar potenciais projectos, ONG e pessoas que, com base na realidade vivida naquele país ou região, testemunhem através da sua história, idealmente de voluntariado e/ou cooperação, os desafios que se colocam aos Direitos Humanos e às necessidades não resolvidas. Por exemplo, em matéria de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ou outros compromissos que os governos assinam a nível nacional, regional e mundial. Os contactos com as organizações internacionais e nacionais que actuam neste âmbito e cujo trabalho deve objectivamente servir para garantir o acesso a direitos fundamentais é, frequentemente, esquecido ou mal conhecido. O "Príncipes" tem dado um contributo importante para a mudança. Não se procuram pessoas para a entrevista, mas sim causas e rostos que actuem nessas mesmas causas de pessoas ao nível mundial.
Por que razão acha que isso acontece?
Estamos muito centrados na nossa realidade e isso limita a nossa visão do mundo e da resolução dos problemas. Por isso, o meu trabalho é um contributo para a equipa da Até ao Fim do Mundo identificar quais as ”entrevistas/histórias” que mais se adequam ao formato televisivo do “Príncipes” com os pressupostos de que a saúde, a educação, a igualdade e a pobreza são realidades quotidianas e plurais com muitos rostos e coordenadas; que a solução não passa apenas por enquadramentos legislativos ou ajudas em situação de emergência e catástrofe. Há que reforçar não apenas o discurso coerente, mas também as prioridades visando a coerência de políticas… O que significa também orçamento real. O meu trabalho passa talvez por contribuir com dados, factos, análises e saberes que depois a equipa e sobretudo a Catarina Furtado transformam nos textos, entrevistas e imagens (o Hugo tem aqui um papel único) que resultam no “Príncipes”.
Quais são os maiores desafios?
Encontrar pessoas que falem português ou portugueses a actuar nas diferentes áreas nos países e regiões onde a equipa vai; encontrar pessoas e projectos nacionais que, além da assistência imediata, tenham práticas de prevenção e empoderamento e, sobretudo, tentar contribuir para o equilíbrio entre o trabalho desenvolvido por cooperantes e o trabalho desenvolvido pelas pessoas e organizações nacionais desses países. Há um desafio interessante que é não ceder às temáticas que fazem mais agenda ou aos grandes consórcios de intervenção, ou às ONG com mais projectos e concentração de temáticas. O desafio maior é da equipa… É ser capaz de ter “reportagens/entrevistas/histórias” que mesmo num país muito diferente possam fazer reflectir cá dentro e actuar para que o futuro seja mesmo diferente (melhor) para todas as pessoas… tudo sem explorar emocionalmente as imagens e os cenários de “quase-guerra” que frequentemente se captam. Porque todos somos pessoas num mesmo planeta, há que tomar mais consciência de que as desigualdades acontecem também por discriminação, por se ser mulher, por se ser jovem, por se ser de outro grupo ou região, incluindo na aprovação e gestão dos financiamentos.
Há algum desafio ao qual o “Príncipes” não tem conseguido dar resposta?
Sim… O que fazer às inúmeras boas vontades com ofertas de livros, roupas ou disponibilidade para voluntariado que chegam depois dos programas? Não é fácil, nem está à distância de um telefonema ou correio electrónico.
Quais foram as histórias do programa que mais a marcaram?
Algumas que continuo à espera de ver o resultado: a Mutilação Genital Feminina na Guiné-Bissau, não o ritual, mas as histórias das mulheres e meninas; a campanha das lâmpadas nos campos de refugiados no Haiti como parte do programa para prevenir a violência com base no género; o trabalho dos Bombeiros Voluntários; entre outras. Mas das histórias que já passaram há algumas que fazem sempre muito sentido no meu quotidiano, talvez porque se cruzam também com a realidade portuguesa.
Como por exemplo?
As jovens mães em São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde. E depois o trabalho enorme de prevenção do VIH/sida que ainda não está feito, por exemplo, em Moçambique.
Em que sentido é que um programa como o “Príncipes do Nada” pode fazer a diferença?
Acho que já fez. Deu e continua a dar visibilidade pública ao trabalho da Cooperação e de ONG a actuar no âmbito do Desenvolvimento. As pessoas que são entrevistadas nos programas são agentes de cooperação, muitas trabalham em ONG ou integram projectos de ONG Portuguesas. Já sabemos que fazer recolha de alimentos, cobertores e medicamentos não é trabalho da Cooperação para o Desenvolvimento, mas sim da Ajuda Humanitária; que não basta recolher bens… É necessário outro tipo de estrutura; os armazéns, os transportes, os contentores de barco ou avião têm de ser pagos. A diferença que o “Príncipes do Nada” faz está, para mim, no facto de, a uma hora em que muita gente ainda está a ver televisão em família, passar um programa sobre direitos humanos. Com preocupações de pedagogia e cidadania, faz serviço público sobre o Desenvolvimento e sobre este nosso mundo mais global, sem protagonismos institucionais, mas com protagonistas directos que testemunham e sinalizam o que está a ser feito, o que está bem, mas também o que ainda é necessário fazer. É muito interessante ver como as escolas de vários níveis de ensino utilizam os programas disponíveis, por exemplo na internet, para desenvolver trabalhos no âmbito das várias disciplinas e se mobilizam para causas locais, nacionais ou internacionais. Esta é uma componente importante para a chamada Educação e Informação em prol do Desenvolvimento, da Cidadania Global e dos Direitos Humanos.
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